17 de dezembro de 2012

Recebendo o convite

É difícil encontrar alguém que não goste de música, de dançar ou assistir uma apresentação artística. Parece que esse prazer está arraigado às características humanas. Agradeço à Deus, por ter recebido dons que são capazes de expressar essa música, esse prazer e esse encanto que é a arte. Neste texto quero tentar exprimir uma parte das experiências que tive para a confirmação do meu chamado e vocação espiritual. Foi um processo longo, de dor e muitas alegrias, mas hoje glorifico a Deus por estar no centro de sua vontade. Ele nos faz um convite, e nos convida à estar com Ele em seus projetos e planos.

Com 11 anos comecei à dançar Hip Hop e outros estilos de dança no colégio que eu estudava, aquela era minha oportunidade de dançar! Eu amava! Desde pequenina sonhava em entrar no Ballet e minha família nunca teve recursos para isso, pelo contrário, sempre vivemos com bastante dificuldade, mas sempre estivemos sob a provisão de nosso fiel Deus.

No mesmo ano entrei por sorteio no Projeto de Ginástica Rítmica em uma Escola Municipal, as vagas eram disputadíssimas e o projeto agregava em torno de 100 alunas! Ali pude desenvolver grande parte do que sei hoje, cresci em desenvoltura, flexibilidade, técnicas de coreografias em grupo, aprendi à trabalhar com um número grande de pessoas, e tudo isso foi uma lição de vida, aprendi muito com a professora Vera Jardim. 
O projeto sobrevivia sob dificuldade, sempre precisando do esforço da professora e das alunas. Muitas delas não tinham condições nem para custear a roupa de apresentação. Ali aprendi bem mais que técnicas, aprendi a ter garra e coragem para persistir em algo que eu realmente acredito ser possível. Aprendi como saber construir um trabalho bem feito, de qualidade, mesmo sem recurso financeiro, foram 6 anos de muito amor e dedicação ao esporte dançado.
Quando eu penso nessa dificuldade financeira toda, e penso que até hoje, nunca consegui ser aluna de uma academia bem conceituada, me sinto orgulhosa do que construí até hoje. E me faz ter certeza, de que esse processo todo, fez de mim alguém diferente na dança.
Eu sempre tento imaginar como seria se eu tivesse crescido no conforto, e no universo de possibilidades de cursos e formações de dança, evidente que seria bom. Mas ainda sim, agradeço à Deus por meu percurso ter sido diferente.
No ministério, eu desempenho tantas coisas, que sem essas experiências de dificuldade que eu tive que enfrentar, certamente eu não saberia lidar com elas hoje. Essa noção de realidade, de precisar correr atrás, de colocar a mão e fazer, me deu um perfil diferente. E ao invés de segregar e impossibilitar alguém de dançar, me fez querer agregar aquele que não pode custear uma aula, ou não pode pagar uma roupa de apresentação, me fez optar pelo simples, mas aquilo que é verdadeiro, e de coração.

A arte, a inspiração é algo tão mágico, que dentro da nossa mente, nos transportamos à um lugar e à um outro tempo. Você enxerga uma cena, uma dança, passos que você vê e às vezes não vê e de maneira quase inexplicável sente um arrepio, uma sensação boa e um entusiasmo diante daquela cena que você um tanto solitário montou na sua cabeça. E por fim, sua mente sabe como será exatamente a apresentação.
Eu louvo à Deus e lhe agradeço sempre, por me ajudar e me inspirar. E tenho certeza que isso é fruto de muita obediência e primazia ao Reino de Deus.
Quando eu era criança, eu tinha quase exatamente, essas “visões”, não são visões ou premunições, é uma composição artística mental bem clara, fruto de uma imaginação bem refinada (risos), digamos assim. Como qualquer criança normal, eu brincava, corria e me divertia com meus amigos, que no meu caso, era em um condomínio.
Depois que entrei na ginástica, eu treinava os saltos no espaço do condomínio, meus amigos ficavam rindo de mim, me chamavam de “gazela saltitante” (risos), mas mesmo assim eu saltava feliz, só pensando em melhorar meu desempenho. Nas festinhas, dançava com minhas amigas, e sempre fazíamos juntas as coreografias das músicas da nossa época. 
Minha dedicação era intensa e tudo isso foram objetos e cenários para configurar e começarem à surgir estranhos pensamentos, que naquele tempo e com aquela idade, eu não imaginava nem para quê, e nem por quê vinham na minha mente, eu simplesmente pensava. Mas hoje eu tenho certeza, que já era um pouco do reflexo do que Deus queria fazer na minha vida e com meu dom.
Pois bem, eu ficava horas pensando em “eventos de dança”. Imaginava um dia de apresentação de coreografias, onde quem se apresentava eram minhas amiguinhas, haviam vários estilos de dança e também de roupas, e estas combinavam bem com o estilo da dança à ser apresentada. E o mais engraçado, é que eu organizava o evento, eu raramente dançava, e fazia isso com prazer. Nos meus pensamentos, minha satisfação era organizar as danças e ver a sensação de alegria de quem às assistia, era como se eu fosse a professora (risos).
Descrever isso em um texto é muito estranho e subjetivo, pois são pensamentos de criança e que nunca expus a ninguém, mas hoje me propus a esse desafio.

Um momento marcante e decisivo na minha vida, foi quando minha mãe decidiu mudar de igreja. Eu achei que eu fosse morrer (risos). Mas hoje, louvo à Deus pela vida e pelo discernimento da minha mãe, pois ela estava me aproximando do local que Deus queria me usar em sua obra.

Enfrentei sofrimento e dor de ter que sair da igreja que eu tanto amava, local onde cresci, que estava começando a atuar como membro e que tinha acabado de me batizar nas águas. Eu só sabia chorar e chorar, dia, tarde e noite, mas minha mãe não cedia em sua decisão e como eu era novinha, ela não admitia que eu não à acompanhasse nessa mudança.
Um dia eu estava tão triste, que resolvi "dançar sob minha tristeza", coloquei um louvor que eu amava, peguei uma bola (um dos instrumentos da Ginástica Rítmica) e comecei a “ministrar”. Eu nem se quer sabia o quê era dançar para Deus, não sabia qual era a essência de uma ministração, eu não tinha referência nenhuma disso, só sei que eu fiz. Coloquei ali, minhas lágrimas de dor e raiva, por não ir no caminho que eu tanto queria. No meu coração, eu só queria que Deus me escutasse, e que ele mudasse o coração da minha mãe. E ali na sala da minha casa, eu dancei, orando, com apenas 12 anos, mas com todo meu coração, clamando à Deus que minhas orações fossem ouvidas. Mal sabia eu, que a resposta de Deus era NÃO, e aquilo que eu fazia só fortificava a ideia de sair daquela igreja e prosseguir para outro local, outro tempo que eu nem sonhava conhecer e viver.  Não consigo descrever o quê eu senti naquela dança, mas sinto no meu coração que eu fui selada naquele dia, selada pelo senhor à dançar para Ele.


Entrei na nova igreja como uma menina meio problemática, que não queria de jeito nenhum estar ali. Minha mãe pediu ajuda aos lideres dos adolescentes e sempre conversávamos. Minha rebeldia era tanta, que a igreja na época, por ser Assembléia, não podia usar calça, e eu ia de calça para os cultos de propósito, só para irritar minha mãe, ela ficar com vergonha de mim e quem sabe assim, deixar eu ficar em casa, ou voltar para minha antiga igreja, mas não adiantava, ela me levava assim mesmo. Até que eu desisti.

O tempo foi passando, e me enturmei na igreja nova. Entrei no coral, fiz amizades e por incrível que pareça, não entrei imediatamente no grupo de dança. Meu sonho era cantar, sempre amei música, e sonhava em ser um dia, uma solista do coral dos adolescentes. Até que eu cantava direitinho (risos).

No fim do ano resolvi dançar com a coreografia. Fiz uma participação pequena, fui “anjinho”, coreografia super simples, mas eu fazia o meu melhor. As danças mais elaboradas ficavam com as dançarinas mais velhas e mais experientes no grupo. Gostei bastante da participação que resolvi estar mais vezes. Apresentei em alguns poucos eventos, e frequentava alguns ensaios, mas no fundo meu compromisso era somente com o coral. Minha grande amiga Susy Peniche sempre me estimulando à estar no grupo, participava daquilo tudo comigo, as duas novinhas, meio com vergonha diante das meninas mais antigas, dava um frio na barriga, mas era legal.




Um tempo depois, em um culto jovem, houve uma pregação abençoada, e no final dela, a pregadora teve umas revelações de Deus. Ela chamou algumas pessoas lá na frente, e falava coisas. Eu no meu lugar estava torcendo para ela me chamar, e finalmente declarar que eu iria cantar, solar, e que meu dom era aquele. Eu pensava: “Me chama, Me chama!”. E ela realmente me chamou, eu fiquei super feliz! Até que ela disse assim: “Tem ministério de dança nesta igreja?”, e a igreja respondeu: “sim!”, a profeta então continuou: “Então pode começar a dançar, porque é assim que Deus vai lhe usar!”, a igreja ficou feliz, glorificou e eu comecei a chorar DE TRISTEZA! E de decepção por aquela notícia, afinal, meu dom não é cantar? Eu queria e gostava tanto de cantar. Meu prazer de dançar não era para Deus, era algo meu, que eu fazia na ginástica. Hoje eu fico pensando da tamanha ignorância nas minhas interpretações quando Deus falava comigo, era teimosa ao extremo! 

Neste mesmo culto, a líder do grupo de dança, Patrícia Malafaia, orava e pedia à Deus que lhe enviasse meninas que fossem comprometidas com o grupo, que fossem verdadeiramente escolhidas para fazer parte do grupo. Imediatamente depois da revelação, ela foi falar comigo, feliz por sentir que era realmente Deus falando ali e me contando de suas orações. Eu fiquei feliz, chorei bastante, mas mesmo assim, meu coração não aceitou a ideia. 

E assim, se iniciou o processo da "moinha" de convencimento de Deus. Durante uns meses eu persistia em não aceitar o convite de Deus. Eu dizia que Ele não iria me obrigar à fazer uma coisa que eu não queria. Minha vontade era até participar do grupo de dança, mas não deixar de priorizar o coral, que na época, eu teria que deixar de cantar na festividade para dançar e isso eu não queria. Sem falar que os grupos de dança em geral, exigem muitos ensaios e realmente requer uma dedicação, é uma escolha importante. 
De todas as formas, tentaram me convencer e me alertar quanto à confirmação de Deus. Mas eu insistia em não ir. E Deus foi falando comigo de várias maneiras, em louvores, em pregações, em orações, e eu gritava de raiva! Ahhh Já chega Deus!!! Poxa vida!!!

Larissa e Camila (em cima) Carol Escorcio, Michelle, Evelyn e Raquel (no centro)
Patrícia Malafaia e Susy Peniche (embaixo)

Certo dia, em um outro culto jovem, ouvi uma pregação que falou muito ao meu coração, foi decisiva, e eu não aguentei mais recusar o convite do Senhor, fui lá na frente, chorei, chorei, e disse: EU ACEITO! 
E assim finalmente coloquei em meu coração, ter compromisso com o grupo de dança, e de fato estar no grupo como uma integrante que soma com o trabalho. 

Eu lembro, que desci as escadas da igreja para lavar meu rosto, e logo em seguida, encontrei a líder do grupo ("coincidência" Não?), abracei ela chorando e disse que tinha tomado minha decisão, ela chorou também e juntas sentimos que o Senhor estava agindo.



A partir daí, começou um processo árduo. A preparação para ser uma ministra do Senhor Jesus, o treinamento para futuramente assumir um grupo, que eu não queria nem entrar, e muito menos imaginava liderar. E de fato, iniciava o discipulado para um dia eu entender qual era a minha verdadeira vocação. Deus ainda confirmou muitas e muitas vezes o seu convite, porém em um único texto, não é possível explicar.



Deus fala, e nos convida para fazer parte da sua obra e da expansão de seu Reino. Ele tem estratégias, e quer nos incluir em seus planos. Basta apenas ficarmos atentos, e ouvir a sua voz e certamente nos colocará no local que Ele está agindo.